quinta-feira, 11 de junho de 2009

Por Glênio Lima "O Grito da Floresta"

Foi a partir de uma visita ao atelier do artista Josafá, que tive a chance de conhecer e reconhecer de perto as nuances da sua sensível pintura. E logo ao chegar, as paredes forradas de pequenas e grandes telas revelavam um novo momento do seu olhar – um olhar para si mesmo. Num auto-retrato, quase monocromático, o artista se vê como um legítimo marajoara, ao representar em seu corpo grafismos típicos desses povos que habitaram as margens do rio Amazonas muito antes da chegada de Cabral.

Numa recente e estimulante viagem ao norte do Brasil, se deixou levar pela inspiradora região cheia de mitos e de referências culturais indígenas. No encontro com esse Brasil assim, misterioso, o artista exercitou sua intuição e somou novos ritos à sua arte. Essa transcendência étnica facilita o encontro com o novo sem perder a permanência da identidade - Josafá sempre se viu em suas telas. Seus personagens em cenários noturnos se disfarçam de lanternas e estão sempre a nos observar.

A luz tênue dos olhos de seres que povoam seus quadros escuros é a mesmas que lambe os cenários sombrios feitos de sua imaginação. Enquanto se dá a cura da pintura nova, paira a sensação de tinta fresca, como se pedisse às obras, que a partir daquele ponto elas falem de suas existências. Figuras modeladas com o esmero de finas e sucessivas camadas de tinta compõem cenas atemporais.

Esta série de pinturas recentes não parece retratar os donos da floresta como meras ilustrações. São auto-retratos, são insinuações, provocações ou representações de mensageiros que tentam defender a floresta. São retratos de guerreiros que simulam um coro e gritam por um ideal, por justiça e um mundo melhor. Mas, com simplicidade, Josafá resume sua maneira de pensar, traduzindo sua paixão pela arte: “tenho um problema nas mãos e preciso resolver, então o jeito é pintar mesmo”.

Glênio Lima - Maio de 2009

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